Olá, leitores sem eira. Tudo bem com vocês?

Essa semana está movimentada por aqui, não é? Hoje eu vim aqui falar um pouco sobre o livro Toda Poesia de Augusto dos Anjos, publicado pelo selo da José Olympio do Catálogo Literário - Grupo Editorial Record. O livro foi cedido através da nossa parceria com a editora.

A banalidade, o pessimismo, a morte, o escatológico, a ciência e o cotidiano são as principais matérias-primas para Augusto dos Anjos, autor paraibano que desafiou, de forma corajosa e independente da crítica, os formatos, as convenções e as temáticas tradicionalmente associadas à poesia de então. Contemporânea e ao mesmo tempo retrato de uma época, a obra de Augusto mantém-se questionadora e, portanto, necessária. A presente coletânea, cuja organização e prefácio são de Ferreira Gullar, é de enorme importância histórica e literária. Um verdadeiro presente.








O livro Toda Poesia de Augusto dos Anjos  conta com os 58 poemas reunidos pelo autor na obra Eu (editada pela primeira vez em 1912) seguidos pelos demais poemas escritos entre 1900 e 1914 que não foram recolhidos em livros. Além das poesias a obra conta com um completíssimo estudo crítico do escritor Ferreira Gullar no qual o mesmo traz a biografia do autor, descreve o contexto em que o poeta foi criado e faz análises dos poemas de Augusto dos Anjos de maneira minuciosa. Gullar traz, em mais de cinquenta páginas, detalhes da poesia de um Augusto dos Anjos nordestino que contemplava a miséria física e social que as famílias vizinhas enfrentavam e entendia a tragédia em seu sentido visível e microscópico. Além disso, o crítico explana os traços que compunham o estilo de escritores que foram seus contemporâneos fazendo-lhes comparações estilísticas.

Gullar explica como a poesia de Augusto teria sido influenciada por um contexto em que atuavam os influxos do parnasianismo e do simbolismo, explicando assim as formas em que construía seus poemas e a motivação da linguagem utilizada. Devo confessar que me desafiei a ler o livro por não nutrir o mínimo de encantamento pelo estilo da poesia de Augusto dos Anjos e o resultado não foi de todo ruim, acabei gostando de várias poesias e pude, ao final, entender muito melhor os elementos de sua escrita.

Augusto dos Anjos escreve em uma linguagem pré-modernista, seus versos sempre voltados à natureza humana quase sempre exaltam a beleza e o valor da biologia enquanto condena a ação teológica ao segundo plano. As doenças, a podridão e a morte são temas recorrentes em seus versos e são descritas, detalhadamente, em seus aspectos mais chocantes.


"Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão..."




A linguagem utilizada pelo poeta é bastante científica e dificulta o entendimento de alguns versos ao mesmo tempo em que cumpre seu papel em escandalizar ainda mais a situação, em outros. O passear dos vermes por um cadáver novo, a matéria que constitui todos os seres e a natureza onipotente constituem algumas de suas "previsões" mais chocantes. Por outro lado, em alguns momentos sua agonia e tristeza são quase tangíveis, como é o caso do Soneto, escrito em homenagem ao seu filho natimorto, nascido em fevereiro de 1911.


"Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,


Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!"


(Grifo do autor)

O fato é que em se tratando de poemas mais reflexivos ou mais escatológicos a poesia de Augusto dos Anjos é do tipo que incomoda. Incomodou a sociedade em sua época e continua a incomodar, por trazer as situações em sua crueza e naturalidade e dispensar os tais "elementos provedores de literalidade" exigidos por tantos.

A diagramação do livro é extremamente bem produzida, a capa é simples e o seu charme fica por conta da fonte utilizada. As folhas são amareladas e o tamanho das letras é ideal. O exemplar como um todo é um ótimo mas o conteúdo não me cativou tanto. Recomendo a leitura aos apreciadores de uma poesia singular e chocante; para estes, constitui-se uma leitura quase obrigatória.

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2 Comentários

  1. Oi Adriana,
    Confesso que esse livro não faz muito meu estilo.
    Não leio muito poesia, mas para quem gosta parece um prato cheio!
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Oi, Alê!
      Infelizmente não gostei muito por causa do estilo do autor, mas pra quem gosta dele é sim um ótimo exemplar :)

      Um beijo!

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