Olá, gente. Tudo certo com vocês?

Hoje eu vim aqui falar sobre o romance Neblina, da Adalgisa Nery, publicado e cedido em parceria pelo Grupo Editorial Record.

Um romance indicado por Drummond e Jorge Amado.O segundo romance de Adalgisa Nery, publicado pela primeira vez em 1972, tem como protagonista uma mulher que sofre uma complicação cirúrgica e fica acamada e emudecida. Fragilizada por essas dificuldades, essa personagem se mostra poética e incisiva ao mostrar o profundo desprezo pela própria família, que tenta se aproveitar de sua condição. Aqui, vemos o talento de Adalgisa para narrativas mais longas aflorar, em um texto verdadeiro, cuidadoso e original.










Antes de começar a leitura dessa história tentei me despir de toda as expectativas que já cercavam o livro assim que li as declarações de ninguém menos do que Carlos Drummond de Andrade a respeito do romance "diferente" e "que não se esgota com a leitura". O livro, que conta a história de uma mulher que após realizar uma cirurgia passa a se comportar de maneira diferente (não por conta da cirurgia em si mas de uma experiência "espiritual"(?) que viveu visitando o seu futuro), ganhou minha atenção já nas primeiras páginas. Desde que li o - meu favorito feat. melhor livro do mundo - Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos  do - também favorito/ melhor escritor do mundo - Rubem Fonseca (ainda não resenhei por aqui mas quem sabe um dia, né? ) não tinha me deparado com uma forma de narrar tão magistral que dispensasse com igual naturalidade qualquer nome próprio durante a narrativa e aí, sem esforço, eu já apresento a primeira característica marcante do livro, em minha opinião: os personagens não possuem nomes. São identificados como mãe, pai, irmã, marido, ou como o caso da protagonista "eu" ou "ela", dependo de quem estivesse falando.

 Por causa de sua apatia a protagonista se vê diante da face dura e real de sua família e percebe, ao observar e escutar os diálogos entre eles, o quanto sua família se preocupa com as aparências, colocando-as acima de tudo. Houve durante a leitura, inclusive, inúmeros momentos em que a minha vontade era de deixar o livro de tanta raiva que sentia da família da moça. Os momentos de reflexão interior da personagem principal, no entanto, compensavam em poética o que os trechos da família deixavam faltar; Drummond não mentiu quando falou sobre o mergulho íntimo no ser.


"Dias depois, no meu quarto sozinha, ouvi o cair da chuva e dentro de mim senti como se fosse o meu próprio pranto. Como não tenho lágrimas, adotei os pingos d'água que batiam no peitoril da janela para umedecer a ardência do meu desconsolo;"


Além dos aspectos que citei anteriormente a história possui, ainda, algumas outras curiosidades que decerto o leitor perceberá prontamente e só torna a história ainda mais profunda. A própria repetição incessante da personagem ao falar sobre a memória que não lhe pertence dá o tom de pertubação que permeia a maioria das páginas. Em uma linguagem extremamente poética Adalgisa consegue nos guiar através da neblina com enorme sensibilidade e nos exigindo uma reflexão, realmente, introspectiva. 

"Inesperadamente, fez ele um gesto sem indicação de motivos e eu esperei o reflexo da sua alma para entendê-lo. Senti apenas um silêncio obscuro. Nem os mortos sabem para onde vão os gestos partidos que ficam no ar à espera de uma razão ainda não concebida."


Quanto à diagramação do livro: tornam a leitura rápida, as letras são do tamanho ideal para a leitura e a cor das páginas também. Só faria uma ressalva com relação a capa, apesar de ter achado bonita não achei que combinou com a história. De maneira geral recomendo a obra aos amantes de um romance reflexivo e de imersão e para quem está em busca de uma leitura rápida sem deixar de ser profunda.

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